Arquivo do mês: março 2010

tinha um episódio da Familia Dinossauro em que o Dino assistia o Canal do Chapéu. basicamente, era um canal 24 horas com notícias relacionadas a chapéus, bonés, gorros e coberturas de cabeça em geral. algo do tipo, “um incêndio destruiu um prédio de oito andares no Centro; felizmente, nenhum chapéu foi atingido”. ou seja: os veículos da RBS são tipo um Canal do Chapéu, né?, só que ao invés de notícias sobre chapéus no mundo, nós temos notícias sobre gaúchos no mundo.


o chefe disse uma vez que a definição dele de felicidade é acordar de manhã e querer ir pro trabalho, e sair da empresa no final do expediente e querer ir pra casa. eu fiquei dois dias em casa morgueando por causa de um acidente estúpido (resumindo, eu coloquei minha mão em um ventilador de teto ligado e por isso fui pro pronto-socorro e levei três pontos. e não, Bia, eu não estava bêbada), e não via a hora de acordar e vir trabalhar (mesmo que meia-boca, catando milho por causa do curativo). e agora que estou aqui no trabalho, não vejo a hora de voltar pra casa no final do dia. o que quer dizer que (pela definição do chefe) eu sou feliz. I guess I am, really.


26 de março é aniversário de Porto Alegre, mas eu sempre lembro desta data por dois motivos diferentes. em 26/03/1992 eu me mudei pela primeira vez para a Felipe Camarão, e lembro de ter pensado pela primeira vez na vida, “eu pertenço aqui”. eu nunca mais senti isso em endereço nenhum meu, só na Felipe, e sinto até hoje quando ando pela rua (e há dois dias eu voltei a morar lá, e agora de lá ninguém me tira mais; olha que poético teria sido se minha mudança tivesse sido hoje!). e no início de maio de 2000 e peguei pra criar uma gatinha filhote de uma menina na Redenção; quando eu perguntei quando ela tinha nascido, ela me disse, “26 de março”. hoje a Lola é uma gorda, muitas vezes maior que aquele bebê pequenino, mas ela também é produto deste dia especial. então, podem comemorar Porto Alegre hoje; eu comemoro 18 anos de Felipe Camarão, e 10 anos da Lolita Gorducha Querida! (e morar na Felipe Camarão, com o Fabricio e três gatas, é a minha versão de felicidade.  se isso for um universo alternativo, à la Lost, que não me tirem daqui não!)


engraçado como a nossa resposta ao clima tem a ver com o que o nosso corpo está acostumado mesmo. no mundo blogueiro moda/estilo/lookbook/etc, a gente aqui no Brasil vê fotos de meninas do hemisfério norte de manga curta em um cenário com neve e pensa “horror!, como ela não está com dois casacos no mínimo?”, porque sim, neve é um evento alienígena pra gente, e se estivéssemos ali, jamais conseguiríamos ficar na boa só de mangas de camiseta. já elas ficam assim na boa justamente por estarem acostumadas com o frio, praticamente nem sentindo ele mais. só que eu sinto algo meio parecido quando eu visito os blogs do mulherio de São Paulo também, pois eu já vi várias usando meia-calça em fotos deste ano mesmo e eu penso “mas pra que a frescura?, ainda não fez frio pra isso esse ano”. só que não, né?, o fresquinho que fez em alguns dias entre o final de fevereiro e boa parte de março é mesmo o frio pra elas, frio de usar meia-calça, eu quero dizer. já pra mim ainda não fez tempo de meia-calça no ano porque eu moro aqui no RS, a temperatura tem que estar consistentemente abaixo dos 20° pra eu achar que tá na hora de usar alguma, antes disso morro de calor nas pernas só de pensar em usar minhas Lupos. e o pior é que eu morro de saudade das minhas Denier 40 (e 60, e também 80).


como diz aquela música do Legião Urbana, eu já morei em tanta casa que nem me lembro mais. sério, desde criança eu tenho o hábito de me mudar. o apartamento onde eu fiquei mais tempo foi um no Higienópolis, e eu e minha família moramos lá por sete anos. fui pra lá com dez anos, saí de lá com 17. a média em cada endereço, no entanto, é de uns dois anos. mas enfim. o ponto aqui é que eu já passei por esse processo de mudança algumas vezes na vida. mais de dez vezes com certeza. só que essa é a primeira vez que eu me mudo sem a minha mãe participar da mudança. nada, nenhuma ajuda, nadinha mesmo: eu tô aqui, ela lá em Tramandaí. aliás, ela nem sabe que minha mudança é amanhã; pretendo ligar pra ela só quando tudo já for um done deal, mesmo. e aí eu tava percebendo uma coisa hoje de manhã: é a primeira vez na vida que uma mudança me deixa completamente exausta fisicamente, mas nem um pouco cansada psicologicamente. eu tô caindo pelas tabelas, mas eu ainda assim me divirto. nada de stress, de brigas, de climão, só expectativa. entendam isso como quiserem.


Shutter Island é daqueles filmes que, se eu assistisse sem saber quem é o autor, eu ia correndo depois do filme tentar descobrir o nome dele no IMDb, que outros filmes ele já fez, e se tem algum projeto esperando para ser lançado, porque eu não posso deixar de ficar de olho nesse jovem tão promissor! mas eu não preciso fazer isso; Shutter Island é filme do meu velho conhecido, o meu tio Marty. e que surpresa boa foi ver esse quase septuagenário filmando como se fosse guri novo, sabe? sei que o filme não tem agradado muito, mas eu adorei esse filme despudoradamente de gênero, sem medo de abraçar o gótico e as referências hitchcockianas (e também um traço de Lynch, ou eu tô ficando louca e vendo coisas?), com cenas que me grudaram na retina e mais uma montagem excelente e meio epilética da minha tia Thelma. quase apanhei do Fabricio ontem na saída do cinema, mas eu tenho gostado mais dele trabalhando com o Di Caprio do que com o De Niro. (yeah, I know, shoot me). aliás, melhor decisão de todas foi, como sempre, ir ao cinema sem saber de nada sobre o filme, não conhecer o elenco, não ler a sinopese, sem sequer ter assistido trailer antes (e dado o número de atores famosos no filme, vocês imaginam a quantidade de vezes que eu fiquei “ah, mas é o fulano!” no escurinho do cinema para cada ator que eu reconhecia? foram muitas, com certeza). cada vez mais sinto que o tio está na melhor fase dele, ou ao menos na melhor fase dele para mim. quero ver filmes novos dele até ele fazer 100 anos! (e hoje de manhã estou podre de cansada, mas não tinha como não arranjar um tempinho para ver o filme mesmo com essa função de mudança. só espero que ele continue em cartaz semana que vem, porque esse é um filme que vale a pena ver de novo na tela grande).


ah, Kate Moss! essa é uma das raras mulheres no mundo a apelar com a mesma intensidade tanto para o meu lado hétero (musa de estilo indiscutível; presto atenção em tudo que ela veste, como ela veste, quando ela veste) quanto para o meu lado lésbico (é uma baita gostosa!, daquelas que só melhoram com o tempo). quem quiser conferir mais fotos deste ensaio, é só clicar aqui (e se eu arrajar um link melhor eu publico aqui depois, tá?).


você sabe que é viciado em Lost quando planeja sua mudança para uma quarta-feira só porque assim dá tempo de 1. baixar um episódio com a internet antiga na madrugada de terça, e 2. não ter que se preocupar com atraso na instalação da internet no apê novo por até uma semana.


existem defeitos e defeitos. uns são dealbreakers pra mim (pedofilia, racismo, homofobia, machismo, ódio a gatos, ser corintiano e achar que o campeonato brasileiro de 2005 foi conquistado de modo limpo e isento, etc), mas outros são defeitos com os quais eu consigo conviver. na segunda categoria, está a sovinice. eu não deixo de ser amiga de ninguém porque o cara é mão-de-vaca, mas eu não curto. também não curto quem sai gastando sem planejamento nenhum, que fique bem claro. e o ideal é o equilíbrio, nem esbanjador, nem unha-de-fome (equilíbrio que ninguém deve ter atingido na vida, mas a gente tenta). eu pendo um pouco mais pro lado do esbanjamento, mas bem menos do que vocês que visitam o outro blog imaginam (muito do que eu visto é de coleções passadas, eu conservo muito bem as minhas roupas), e convivo super na boa com quem pende um pouco pro lado da avareza. mas eu acho sovinice em excesso um desperdício de vida. eu acredito que a gente só tem uma vida, e que por isso devemos vivê-la bem. a única coisa que levamos dela são nossas experiências, e não os bens materiais. por isso que eu acho que viver economizando os trocadinhos indiscriminadamente é na verdade uma perda, e não um ganho. é que nem aquela história do Jorginho Guinle, que gastou toda a herança milionária dele em vida: tem quem acha que ele é louco; eu acho que ele teve uma vida invejável. eu só tenho uma vida, não vou desperdicá-la com sapatos baratos.


hoje faz um ano que eu tenho esse talho na barriga. e um talho na barriga nunca fez ninguém tão feliz quanto ele me faz :)


gente que insiste que as décadas começam pelo ano terminado em 1 e não pelo terminado em 0 são que nem aqueles que gostam de te relembrar que tomate é fruta, e não legume: tecnicamente estão certos, mas funcionalmente são completamente sem-noção.


o que mais me choca nesse ensaio sensual da Cristina Mortágua com o próprio filho não é o fato de ele ser um ensaio sensual entre mãe e filho (se fosse filme do Bertolucci o pessoal ia estar achando lindo!), nem o fato de eles estarem lambuzados de óleo de cozinha, nem o fato da Mortágua ter embarangado horrivelmente. o grande choque mesmo nesse caso todo, o grande elefante branco no meio da sala que ninguém quer comentar, é por que cargas d’água o guri tem a cara bem mais escura que o resto do corpo? ISSO sim gave me the creeps. o cara é um Photoshop Disaster em 3D!


a memória é um troço estranho: eu me lembrava de estar linda e deslumbrante quando loira, e por isso estava sentindo muita saudade daquela época. quase marquei horário no salão pra clarear geral de novo. aí eu vejo umas fotos mais antigas minhas, tipo coisa de dois anos atrás, da época em que eu estava oxigenada, e não acho assim mais tão bacana, não. curto mais o cabelo como ele está agora.


então essa coisa de Dia da Mulher. a ideia inicial é ótima, porque é um dia para se pensar na condição feminina enquanto minoria, mas com o tempo tomou uma dimensão absurda, virou o Dia de Celebrar os Clichês Femininos. aí vem o povo dar “parabéns” pra mim, porque as mulheres são “sensíveis”, “fortes”, “delicadas” e não-sei-que-mais. e é engraçado, eu digo isso todos os anos neste dia, mas vou continuar insistindo: no 20 de novembro eu não vejo ninguém dando “parabéns” às pessoas da raça negra por sua ginga, sua facilidade no futebol ou sua pele firme e elástica, por exemplo, mas de algum modo no dia 8 de março não só é aceito como também é esperado que as pessoas me parabenizem por ser este ser excepcional, que é “melhor” que os homens. e isso acontece com a conivência de muitas mulheres, várias adoram esse dia por isso mesmo, por essa atenção, valorizam esse papel. e é como tava falando o meu amigo Leandro José no Twitter: é um dia de valorizar a mulher por trabalhar fora e depois fazer todo o serviço da casa, e dizer que é isso que faz delas seres tão importantes, porque assim “ela se lembra como tem que se comportar”. e lá vamos nós mulheres sermos domadas pela lisonja, mais uma vez… (eu não! inclua-me fora dessa, se faz favor).


comentários aleatórios sobre o Oscar: *sim, eu chorei quando a Bigelow fez história ontem à noite. sue me. * acordei metade dos meus vizinhos com a vitória do Giacchino. surpresa gostosa, daquelas que o Oscar não me fazia mais há um tempo ;) * e falando em Lost, como assim o Minkowski ganhou um Oscar de documentário?? wtf da noite. * as mulheres mais bonitas da festa tinham no mínimo 45 anos. são as cougars dando um pau nas twinkies :D * aquela montagem chapa-branca sobre “filmes de terror” (sic) me deixou muito irritada. quase desliguei a TV, chega a ser ofensivo para qualquer pessoa com um conhecimento mínimo sobre o gênero. * falem o que quiserem: eu ri bastante com os dois hosts. sue me again. * gostei do modo como apresentaram melhor canção, bem menos canstivo que quando tinha números musicais. mas aí veio o balé interpretativo da melhor trilha sonora e fodeu com tudo. * Argentina 2 x 0 Brasil. * perdi de ganhar vários bolões: sério que a imprensa brasileira considerou a vitória de The Hurt Locker como “uma surpresa”? mas que burros, dá zero pra eles, dá!


hoje de manhã, tomando café e falando besteira, eu falei pro Fabricio que a melhor decisão que eu tomei na minha vida foi ter ficado com ele. e foi uma decisão difícil, porque embora eu soubesse que eu ia acabar ficando com ele mais cedo ou mais tarde, eu tinha dois grandes medos de dar o próximo passo. o primeiro, é claro, é o medo óbvio que todos os amigos têm quando pensam em adicionar o elemento romântico/sexual na história: “e se não der certo, o que será da nossa amizade?” algo me dizia que isso não iria atrapalhá-la, mas enfim, a gente nunca sabe com certeza até que as coisas aconteçam. mas o segundo grande medo, ainda maior que o primeiro, era de tudo dar certo, e certo demais. porque eu sentia muito lá no fundo da minha alma que se eu ficasse com ele, ia ser pra sempre, e eu pensava, “mas eu tenho 22 anos! é muito cedo, ainda tenho que farrear muito, me apaixonar pelos homens errados, fazer sexo com estranhos, levar dois relacionamentos ao mesmo tempo, chorar e sofrer, meter o pé na jaca!” mas é engraçado, a gente ficou junto e isso não atrapalhou em nada na nossa amizade (só fortaleceu), deu tudo certo demais (a ponto de eu me imaginar velhinha do lado dele e curtir demais esse pensamento) e eu não tenho saudade nenhuma da jaca onde eu não meti meu pé. (e tu sabe que encontrou o teu melhor amigo no mundo inteiro quando tu tem a impressão que vocês ainda estão tendo o mesmo papo há anos, desde que se conheceram, apenas pausado aqui e ali para cuidar de assuntos particulares, tipo trabalho e etc. “no uncomfortable silences”, diria a Mia Wallace).


em 2008 eu trabalhei num lugar que só fez me botar pra baixo. sério, foi um lugar com “grife”, mas que hoje vive só de aparências, e que foi sem sombra de dúvidas o lugar mais deprê onde eu já trabalhei. e não era deprê só porque ele tava caindo aos pedaços (mas comendo mortadela e arrotando caviar, sabe o tipo?), mas também porque as pessoas lá não eram legais, era um tal de pisar um no pescoço do outro e falar mal pelas costas que me deixava doente. e aquelas pessoas me botavam pra baixo; vinha a gestora da sede onde eu trabalhava e me falava horrores, quem ouvisse pensaria que eu sou a pior professora da face da terra, sem carisma nenhum com os alunos. aí corta pra sábado passado, eu almoçando no Iguatemi antes do cinema, e encontro a filha da dona de um outro curso para onde eu trabalhei há uns dez anos, e que foi o primeiro lugar onde eu lecionei, e a guria não se aguentava de felicidade de me ver, e falando como ela sempre lembrava de como os alunos gostavam de mim, que todo mundo sempre lembrava de mim com carinho por lá, e que como seria legal se eu voltasse a trabalhar com eles. e aí eu penso no lugar onde eu trabalho hoje, em como o pessoal aqui gosta de mim, e me trata quase como se fosse família mesmo (aliás, melhor do que família, porque tirando mãe/irmão/avó, nenhum parente meu vale a pena). e eu penso no banco onde eu trabalhava quando fui morar com o Fabricio, e como meus ex-colegas se dão bem comigo até hoje. e aí eu tenho certeza absoluta de que quem era podre naquele relacionamento profissional de 2008 era mesmo o outro lado. e me dá uma raiva daquela gente metida que vou te contar, porque fazer eu questionar justamente minha capacidade como professora é prova maior do paunocusismo deles. espero que se explodam. vou dar risada quando decretarem falência.